Por Redação Foz
A inflamação crônica é apontada por especialistas como um dos principais fatores por trás de doenças como diabetes, obesidade, depressão, Alzheimer, dores articulares e problemas cardiovasculares. Na abordagem da nutrição funcional, o ponto de partida para evitá-las e tratá-las é a alimentação. A nutricionista clínica Gisela Savioli é uma das que garantem a eficácia dos alimentos tidos como anti-inflamatórios no combate a ela.
“A alimentação é o único remédio natural que atua simultaneamente no cérebro, no intestino, no fígado, nas articulações e em todos os sistemas do corpo”, afirma Gisela. Conforme diz, não basta eliminar sintomas. É preciso interromper a causa da inflamação. Assim, os alimentos anti-inflamatórios funcionam como ferramentas para regenerar tecidos, restaurar a microbiota intestinal e recuperar o equilíbrio metabólico.
Inflamação crônica sob a lupa
A Harvard Medical School define a inflamação aguda como uma resposta natural de defesa do corpo diante de lesões ou infecções. Já a inflamação crônica persiste de forma contínua, desencadeando danos cumulativos nos tecidos. “É como uma brasa acesa dentro do organismo, alimentada diariamente por maus hábitos”, explica Gisela. O corpo passa a funcionar em desequilíbrio, aumentando o risco de doenças degenerativas.
Ela enfatiza ainda que a maioria dos quadros inflamatórios crônicos é causada por fatores ambientais e comportamentais, e não genéticos. “A genética determina cerca de 20% da nossa saúde. Os outros 80% dependem das escolhas diárias”, afirma. O que inclui alimentação, sono, estresse, atividade física e exposição a substâncias tóxicas. Por ser responsável por boa parte do sistema imune, o intestino é decisivo no processo.
Alimentos anti-inflamatórios e saúde intestinal
A ingestão frequente de alimentos ultraprocessados, ricos em carboidratos refinados e glúten, contribui para o aumento da permeabilidade intestinal. “Mesmo quem não é celíaco pode ter sensibilidade ao glúten e sofrer com sintomas como inchaço, cansaço e dores”, diz Gisela. Pães, massas e biscoitos, ainda que considerados inofensivos, favorecem o surgimento de processos inflamatórios, sobretudo quando consumidos todos os dias.
A nutricionista recomenda substitui-los por raízes como mandioca, batata-doce e inhame, além de farinhas de castanhas e sementes. Tais alimentos possuem fibras e compostos bioativos que nutrem a microbiota intestinal e evitam picos de glicose. “O intestino precisa de alimentos que alimentem as bactérias do bem. Isso reflete diretamente no humor, na disposição e na imunidade”, afirma.
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Alimentos com propriedades medicinais
Alimentos anti-inflamatórios em destaque
Entre os alimentos específicos com propriedades medicinais naturais ela destaca o abacaxi (bromelina), mamão (papaína), cúrcuma (curcumina), pimenta do reino (piperina), alecrim, batata yacon (inulina), melancia, canela e banana-verde, todos anti-inflamatórios, antioxidantes, digestivos e reguladores metabólicos comprovados cientificamente, podendo ser usados para prevenir e tratar sintomas comuns.
Outro ponto abordado por Gisela é o desequilíbrio entre os ácidos graxos ômega-6 e ômega-3. A dieta ocidental, baseada em óleos vegetais industrializados, leva a um consumo excessivo de ômega-6, que é pró-inflamatório. “O ideal é ter no máximo três moléculas de ômega-6 para cada uma de ômega-3. Mas hoje vemos proporções de até 36 para 1”, alerta. Fontes de ômega-3 são sardinha, linhaça e nozes.
Para começar o dia desinflamando
Gisela cita ainda como alimentos anti-inflamatórios a couve, a maçã, o brócolis, os cogumelos, a cebola roxa, o tomate, as frutas vermelhas e as sementes. Ricos em fitoquímicos, eles contêm flavonoides, antocianinas e carotenoides, compostos que ajudam a neutralizar radicais livres e a reduzir a inflamação celular. “O suco de couve com maçã, consumido em jejum, é uma forma prática de iniciar o dia desinflamando”, recomenda.
A revista Time publicou em 2004 uma capa emblemática intitulada The Secret Killer, chamando a inflamação de “assassina secreta” pelas consequências sistêmicas que provoca ao longo do tempo. De acordo com a reportagem, ela está na raiz de doenças como câncer, Alzheimer e problemas cardíacos, e ressalta que a medicina convencional, ao focar nos sintomas, ignora o processo inflamatório como fator de origem.
Alimentação funcional e prevenção de doenças
A nutrição funcional, no entanto, propõe uma abordagem inversa: atuar na raiz do problema. “A medicina tradicional trata o colesterol alto com estatina, mas não pergunta o que provocou essa alteração. Já a nutrição funcional investiga a origem da inflamação que levou a esse desbalanço”, afirma Gisela. O mesmo vale para dores articulares, problemas digestivos e dificuldades de emagrecimento.
De acordo com ela, a recuperação da saúde é possível em qualquer idade. Mudanças simples na alimentação e no estilo de vida produzem efeitos visíveis em poucas semanas. “Vejo pacientes que eliminam dores, melhoram o sono e recuperam a energia apenas com ajustes alimentares. É uma questão de decisão e constância”, diz. A orientação profissional, porém, é essencial para adaptar as estratégias a cada caso.
Alimentos anti-inflamatórios como autocuidado
Por fim, o cuidado com o corpo inclui também o equilíbrio emocional. Gisela destaca que o estresse crônico é um dos maiores gatilhos da inflamação, por elevar o cortisol e alterar a resposta imunológica. Assim, alimentação, atividade física e bem-estar mental devem ser tratados como partes de um mesmo sistema. “Não há saúde sem integração entre corpo e mente. Desinflamar não é uma dieta. É um modo de viver”, conclui.
