Por Redação Foz
A parcela que cabe no bolso nunca traduz o custo real de um carro financiado. Além da prestação, precisa entrar na conta IPVA, combustível, seguro, manutenção e a depreciação do veículo. Tais custos somados elevam facilmente o valor da mensalidade. Ou seja, o financiamento se apresenta como caminho natural para a compra, mas, na prática, representa um peso maior do que a maioria imagina.
De acordo com um levantamento da Serasa Experian de 2024 citado em reportagem do Bem Paraná, o brasileiro paga em média R$ 1.202,53 por mês ao financiar um carro. Para quem ganha R$ 3.500 líquidos, por exemplo, um veículo de até R$ 8 mil seria compatível, mas é raro em bom estado e, ainda assim, muito antigo. O contraste mostra que o crédito fácil empurra as pessoas para dívidas que quebram o orçamento.
O peso dos juros no custo final do veículo
O problema central está nos juros. De acordo com a Quatro Rodas, a taxa média de financiamento de carros chegou a 29,5% ao ano, a maior da série histórica. “O consumidor tende a se concentrar apenas na prestação”, afirma a reportagem. Um veículo de R$ 60 mil, parcelado em 60 meses, gera parcelas em torno de R$ 1.500, e custará perto de R$ 90 mil no final do contrato, considerando a taxa média atual de juros.
Já quem financia um carro de R$ 80 mil pode acabar pagando mais de R$ 120 mil ao longo de cinco anos. O raciocínio se aplica também a modelos mais baratos. Um veículo de R$ 45 mil pode se transformar em R$ 70 mil ao fim do contrato, mesmo com parcelas aparentemente acessíveis de pouco mais de R$ 900. O crédito, oferecido como solução, transforma um bem de uso em dívida longa e pesada.
Carro financiado domina as compras
“No geral, 85% das compras de carros novos e 55% das de usados são feitas com dívidas; e 25% a 50% desses empréstimos são concedidos a pessoas que podem não ser capazes de pagá-los em prazos de até 72 meses”, diz o investidor e influenciador Graham Stephan em seu canal no Youtube, referindo-se ao mercado norte-americano. Porém, se lá é assim, no Brasil não é muito diferente.
Dados do Cadastro Positivo mostram que, em março de 2024, apenas 80,2% dos brasileiros pagaram em dia o financiamento de veículos, menor índice da série histórica. Em janeiro e fevereiro, os percentuais foram de 85,1% e 84,6%. “O aumento das despesas típicas de início de ano, como IPTU e IPVA, afeta a gestão financeira e compromete os pagamentos”, explica Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.
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Quanto maior o prazo, maior o custo
Seguro, combustível e manutenção pesam no bolso
Além do crédito caro, há o peso do seguro, que varia conforme o perfil do motorista e o modelo do carro, o combustível, cujo preço segue em patamar elevado, e as manutenções periódicas, que aumentam à medida que o veículo envelhece. A soma de todos os custos reduz a margem de manobra financeira e amplia o risco de endividamento prolongado e, muitas vezes, insustentável.
O impacto aparece também nas estatísticas de mercado. Dados da Turboway indicam que, no primeiro semestre de 2024, mais de 1,19 milhão de veículos zero-quilômetro foram financiados, maior volume desde 2015. A expansão mostra que, mesmo diante de juros recordes, o crédito segue sendo o caminho predominante para quem busca comprar um carro.
Parcelas longas, patrimônio curto
A tentação da parcela baixa estimula prazos longos, em alguns casos superiores a 72 meses. Porém, quanto maior o prazo, maior a depreciação. Para se ter uma ideia, ao sair da concessionária um carro zero-quilômetro perde 11% de valor. Em um ano, 25%; em três anos, 46%; e em cinco anos, 63% — mais da metade do preço à vista. A consequência, portanto, é dupla: patrimônio reduzido e dívida prolongada.
Carro financiado exige disciplina de cálculo
Especialistas internacionais em finanças criaram diferentes “regras de bolso” para orientar o consumidor na compra do carro. A chamada Regra 238 sugere uma entrada de 20%, financiamento em até 36 meses e um gasto total com transporte de no máximo 8% da renda bruta anual. Pela Regra 2410, o prazo pode chegar a 48 meses, mas o gasto total não deve ultrapassar 10% da renda bruta anual.
Outras abordagens defendem um rigor maior. O consultor Dave Ramsey recomenda pagar sempre à vista, limitando o preço do veículo a 50% da renda anual. Já o Financial Samurai sugere não gastar mais que 10% da renda anual e manter o carro por pelo menos uma década. Embora criadas no exterior, as diretrizes ajudam a mostrar os riscos de parcelas longas e valores desproporcionais ao orçamento.
Sem cautela, carro financiado vira estresse
O cenário, portanto, sugere cautela para quem pensa em recorrer ao financiamento para comprar um carro. Avaliar a própria renda, calcular os gastos além da parcela e projetar a desvalorização do veículo são passos básicos antes de assinar qualquer contrato. Sem tais cuidados, a sensação de conquista ao sair da concessionária pode rapidamente se transformar em pressão financeira.
