Por Redação Foz
A rotina moderna cronometra até os minutos de descanso e tolera mal as pausas. Ainda assim, o cochilo persiste como um dos hábitos mais antigos da humanidade — e talvez um dos mais subestimados. Longe de ser sinônimo de preguiça, tirar uma soneca pode melhorar a produtividade, a concentração e até a criatividade, desde que bem dosada e praticada com intenção.
“Tirar um cochilo pode aumentar o estado de alerta, melhorar o desempenho e ajudar a relaxar”, afirma a Sleep Foundation. Embora ausente da maioria das rotinas adultas, o cochilo tem respaldo crescente da ciência. Estudos mostram que pausas curtas e intencionais durante o dia não apenas combatem o cansaço acumulado, mas também otimizam funções cognitivas como memória, raciocínio e tomada de decisão.
Power nap: o poder do cochilo breve
Há mais de um tipo de cochilo. Alguns duram cinco minutos, outros chegam a uma hora. A diferença entre eles não está apenas no tempo, mas na função: enquanto o cochilo curto, conhecido como “power nap”, visa restaurar a atenção e o foco, o mais longo pode atuar no processo de consolidação da memória e recuperação física. Cada formato tem sua serventia — e sua indicação.
De acordo com o escritor e consultor Alex Soojung-Kim Pang, autor do livro Rest: Why You Get More Done When You Work Less (Descanso: Por que você produz mais quando trabalha menos, em tradução livre), “o descanso não é uma pausa da produtividade; é parte essencial dela”. Segundo Pang, incluir períodos estratégicos de descanso durante o dia — como cochilos breves — favorece a performance.
Nem todo cochilo é igual
Mas nem todo mundo reage da mesma forma. Um cochilo de 20 minutos pode ser suficiente para quem já dorme bem à noite, mas insuficiente para quem sofre de privação crônica de sono. Mônica Andersen, pesquisadora do Instituto do Sono e professora da Unifesp, destaca que “a necessidade de cochilar durante o dia pode sinalizar uma noite mal dormida — ou um corpo que está tentando compensar demandas excessivas”.
Em outras palavras, o cochilo pode ser aliado ou alerta, dependendo do contexto. Mas quando bem programado, o “power nap” tem efeitos amplamente positivos. Cochilar à tarde não favorece apenas o humor, mas também o desempenho mental. Estudos da Sleep Foundation mostram que sessões curtas — entre 10 e 30 minutos — melhoram a vigilância, reduzem lapsos de atenção e diminuem a fadiga.
Fotos Freepik

Pós-cochilo breve versus longo
Já o cochilo de uma hora, embora mais profundo, pode induzir à inércia do sono, aquela sensação de torpor ao acordar, caso não seja bem administrado. Por envolver fases mais pesadas do descanso, a pausa mais longa pode dificultar um despertar ágil. Em rotinas flexíveis, a soneca de uma hora ajuda a compensar noites mal dormidas, mas, em contextos mais rígidos, pode comprometer o rendimento imediato.
Cochilar no expediente: de tabu a tendência
Cochilar durante o expediente ainda carrega certo estigma, associado à preguiça ou descompromisso. Mesmo assim, empresas inovadoras já adotam espaços dedicados ao descanso, reconhecendo seus efeitos positivos. O Instituto do Sono reforça que “o descanso breve ao longo do dia não apenas é fisiologicamente benéfico como também está associado a menores índices de erro e maior estabilidade emocional”.
Há formas de otimizar a prática. Para tirar um ótimo cochilo, o ideal é um ambiente silencioso, com pouca luz e temperatura agradável. Algumas pessoas recorrem inclusive ao chamado “coffee nap”: tomar uma dose de café antes do cochilo de 15 a 20 minutos, o que garante um despertar mais ativo. O truque combina os efeitos restauradores do sono breve com o tempo de ação da cafeína.
Riscos de cochilar fora de hora
Ainda assim, nem tudo são vantagens. Cochilos frequentes e mal programados, especialmente no final da tarde ou à noite, podem comprometer o sono noturno. Em vez de aliviar o cansaço, tornam-se uma etapa a mais de um ciclo de vigília interrompido, que afeta o ritmo circadiano. Assim, especialistas recomendam planejar os cochilos com parcimônia e, de preferência, antes das 15h.
Para quem busca melhorar a produtividade sem sacrificar o descanso, o cochilo é uma ferramenta valiosa — mas não única. Uma boa noite de sono continua sendo o principal fator de equilíbrio físico e mental. Medidas como organizar a rotina com pausas reais, evitar estímulos intensos antes de dormir e respeitar sinais de fadiga costumam surtir efeitos mais duradouros do que confiar apenas em sonecas esporádicas.
O descanso como estratégia, não como falha
Tirar um cochilo, portanto, não precisa ser encarado como fraqueza ou vício. Em um mundo que exalta o desempenho ininterrupto, saber pausar é uma forma de resistência. E mais: é uma estratégia comprovada para manter a mente clara, o corpo desperto e a produtividade em alta. Negá-la por convenção ou preconceito, é abrir mão de um recurso simples, acessível e respaldado pela ciência