Por Redação Foz
A pressa ganhou status de virtude. Nas rotinas modernas, esperar parece perda de tempo. Mas, enquanto se celebra a velocidade, pouco se fala do preço por trás. Relações se desgastam, decisões são tomadas no calor da ansiedade e projetos são abandonados antes de amadurecer. A paciência, embora subestimada, exerce papel decisivo na construção de percursos duradouros — na vida pessoal e no trabalho. Mas como ter paciência?
“Paciência não é inércia, é estratégia”, escreveu a autora Martha Medeiros em uma de suas colunas no jornal Zero Hora. É aprender a esperar sem se anular, a sustentar processos que levam tempo e a agir com bom senso. Paciência é ainda um esforço ativo que evita decisões precipitadas e protege relações. Ao reconhecer que nem tudo depende de vontade imediata, a pessoa aprende a lidar melhor com a realidade.
Paciência ante o que não depende de si
Saber esperar o que não depende de uma ação direta é um dos primeiros sinais de maturidade emocional. A insistência em controlar o incontrolável costuma gerar frustração, irritação e desgaste. “Quando não conseguimos aceitar que há coisas fora do nosso alcance, nos tornamos reféns da ansiedade”, afirma Roberto Shinyashiki, psiquiatra e autor de Louco por viver. Ter paciência é agir dentro dos limites do que é possível.
Em momentos difíceis, há uma tendência a buscar saídas imediatas. Mas apressar soluções tende a trazer consequências mais duras. Viver uma fase adversa com paciência permite atravessá-la de forma mais lúcida. A pressa costuma agravar o sofrimento. Segundo um estudo da Universidade de Selcuk, na Turquia, “a capacidade de lidar com as emoções e de se manter firme diante das dificuldades tem influência direta no bem-estar”.
Diferenças também pedem tempo
Conviver com pessoas muito diferentes de si também exige paciência. Divergências de temperamento, valores ou ritmo podem gerar atrito, mas nem todo conflito precisa ser enfrentado com confronto. Às vezes, o que falta não é argumento, mas tempo. A capacidade de observar, ouvir e entender o outro sem reatividade imediata favorece relações mais saudáveis. Não significa aceitar tudo, mas saber quando e como intervir.
É importante ter paciência com os outros, mas sem se anular. A linha entre empatia e submissão pode ser tênue, e a tolerância mal dosada vira passividade. O desafio é sustentar o próprio ponto de vista sem agressividade e, ao mesmo tempo, acolher a diferença sem ressentimento. A paciência, assim, é mais uma forma de autocontrole do que de concessão. Ela nasce do equilíbrio entre firmeza e escuta.
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Pausas restauram a clareza
Como ter paciência com o próprio ritmo
Há dias em que nada rende, e a impaciência se volta contra si mesmo. Em momentos assim, é comum ceder à autocrítica ou insistir em forçar a produtividade. Mas o cérebro também precisa de pausa. Um artigo da psicóloga Meg Selig, publicado na Psychology Today, mostra como pequenas pausas ajudam a restaurar a atenção e a clareza. Ser paciente com o próprio ritmo é parte do processo de manter-se funcional.
“Pausas breves, como levantar da cadeira, respirar fundo, caminhar por alguns minutos ou ouvir uma música, têm efeito reparador”, diz Selig, para quem os intervalos simples ajudam a reduzir a sobrecarga mental e favorecem a retomada das tarefas com mais foco. Em vez de perda de tempo, significa administrá-lo com inteligência — inclusive reconhecendo que produtividade contínua é uma ilusão.
Resultados levam tempo
Construir algo que leve tempo — uma carreira, um projeto, uma mudança de vida — é uma das formas mais concretas de exercitar a paciência. Resultados consistentes quase nunca vêm de ações isoladas. São frutos de repetições, testes, ajustes e persistência. A ilusão de soluções instantâneas alimenta desistências prematuras. “As grandes conquistas pertencem aos pacientes”, resume Shinyashiki.
Saber esperar o momento certo de agir também demanda critério. Nem tudo é para ser feito agora. Há contextos em que decisões precipitadas geram retrabalho. Ter paciência é saber avaliar o cenário e, se preciso, recuar ou adiar. Não se trata de procrastinação, mas estratégia. O impulso, por mais forte que pareça, nem sempre conduz à melhor escolha. Respeitar o tempo, por sua vez, reduz erros.
Enfim, como ter paciência?
Mais do que uma virtude esporádica, a paciência pode fazer parte da rotina como uma habilidade treinável. Não exige práticas complexas. Começa com escolhas pequenas: respirar antes de responder, não tirar conclusões apressadas, respeitar os próprios ciclos e aceitar que nem tudo está sob controle. Como ter paciência, então? Talvez seja menos sobre esforço e mais sobre disposição para construir outra relação com o tempo.
