Por redação Foz
Usar garfo e faca parece simples — até o momento em que se está em um almoço ou jantar mais formal, rodeado de olhares atentos. Para quem não aprendeu por hábito ou tem dúvidas sobre regras de boas maneiras à mesa, entender como usar os talheres e a dominá-los é essencial para se agir com segurança e naturalidade em qualquer circunstância. E revela ainda respeito ao ambiente.
No Brasil prevalece estilo europeu
No Brasil, o estilo europeu — com o garfo na mão esquerda e a faca na direita — é o que prevalece em ocasiões formais. Para os canhotos, é natural. Já os destros, para ganhar desenvoltura, precisam praticar o hábito em casa. Embora segurar os talheres assim seja indicado em eventos que pedem refinamento, nada impede de se adotar o manuseio no dia a dia e comer com elegância em qualquer lugar.
“Etiqueta tem a ver com civilidade. Nada deixa uma pessoa mais segura do que chegar a um lugar se sentindo preparada para o que a espera”, escreveu a jornalista e consultora Gloria Kalil no livro Alô, Chics! – Etiqueta contemporânea. Para ela, boas maneiras — não apenas à mesa — são uma espécie de ética cotidiana que regula as relações entre as pessoas, tornando-as mais leves.
Como usar os talheres à mesa sem exagero
O princípio que orienta o uso dos talheres é definido em uma palavra: discrição. Ou seja, mãos próximas ao prato, punhos retos, gestos comedidos. Ao cortar, a regra é simples — porções pequenas, e sem forçar para não produzir ruído. Depois do corte, nada de falar gesticulando com o garfo e a faca no ar. Durante a mastigação ou pausa, eles devem repousar sobre a borda virados para dentro, e nunca em forma de remos.
Embora seja uma referência clássica em etiqueta, o estilo europeu não é o único. O americano, por exemplo, aceita a troca do garfo para a mão direita após o corte, deixando a faca apoiada. O hábito, comum nos Estados Unidos, não é considerado incorreto, mas tende a parecer mais informal. O Emily Post Institute — um guia de etiqueta renomado — reconhece ambas como adequadas, a depender do contexto.
Arte Foz

Linguagem dos talheres não é universal
Usar colher em massas não é consensual
A máxima de que em toda regra há exceções vale também para a dos talheres. Em refeições em que a faca não participa, como em massas e sopas, por exemplo, o garfo ou a colher vai para a mão dominante. Quanto ao uso de colheres como apoio em pratos de espaguete ou talharim, não há consenso. Portanto, é bom estar preparado para os dois cenários quando no almoço ou jantar for servido massa.
O uso correto dos talheres, na verdade, não consiste em decorar regras, mas compreender e assimilar o gestual. A forma de segurar o garfo deve ser firme, mas leve, com o cabo entre o polegar e o indicador, e os dedos médios dando estabilidade. Com a faca adota-se o mesmo padrão, com o lado do corte voltado para dentro. Na hora de levar o garfo à boca, o ideal é evitar ângulos exagerados ou movimentos largos.
Como usar os talheres nas pausas
Talheres têm uma linguagem própria — que não é universal, como se pode pensar. A posição de descanso do garfo e da faca nas pausas, por exemplo, varia de um país para o outro, mesmo na Europa (ver imagens). Mas como o Brasil adota o estilo europeu, o mais comum é posicioná-los em forma de ponta de seta dentro do prato. Mas há quem prefira o modelo americano, apoiando a faca na borda superior.
Garfo e faca de peixe, embora menos usuais — alguns restaurantes nem os adotam mais —, têm suas peculiaridades por serem menores, mas, em geral, se assemelham aos talheres convencionais no modo de usar. Garfos, facas e colheres em sequência ao lado do prato significam que mais de uma refeição será servida, e devem usados de fora para dentro. Já os de sobremesa ficam acima no sentido horizontal.
Como lidar com imprevistos
Além do aspecto técnico, há outras regras que também contam. Usar os talheres para apontar, falar com eles nas mãos ou repousá-los na toalha não são atitudes bem-vistas. Não cruzar os braços sobre a mesa nem produzir barulho ao usá-los, idem. Compartilhar um espaço de refeição pressupõe atenção ao outro. “Etiqueta é, antes de tudo, consideração”, diz Luis Mendonça de Carvalho, autor de Etiqueta à mesa.
E quando algo foge ao previsto? Se um talher cair no chão, por exemplo, o mais apropriado é pedir outro, sem tentar pegá-lo ou colocá-lo de volta na mesa. Se algum dos talheres à disposição não parecer adequado, o mais sensato é improvisar com discrição. E se houver dúvida sobre o uso de qualquer um deles, observar antes de agir costuma ser mais eficaz do que arriscar uma gafe.
Etiqueta é orientação de comportamento
Enfim, saber como usar os talheres não é futilidade ou frescura, como muitos consideram. Na prática, regras de etiqueta e boas maneiras nada mais são do que uma orientação de comportamento social, permitindo que haja uma convivência educada, correta e agradável — mas com naturalidade, sem afetação. Afinal, elegância é agir com espontaneidade, sem artificialismos ou esnobismos.
