Economizar tem pouco a ver com quanto dinheiro se ganha

Foto de um homem jovem à frente de um quadro negro com cifrões desenhados. Conceito de economizar
Por Redação Foz

As pessoas tendem a acreditar que ganhar mais é a solução para começar a economizar. A realidade, porém, mostra não ser bem assim. Muitas vezes, o aumento da renda não resulta em mais poupança — como é recomendável —, mas sim em mais gastos. É a chamada inflação do estilo de vida. À medida que os recursos disponíveis aumentam, as despesas e obrigações sobem junto.

Com o tempo, os custos, por exemplo, de comprar um carro ou trocar por outro mais moderno; mudar para uma casa maior ou bairro mais caro; ou adquirir itens de melhor qualidade quase sempre anulam o aumento da renda — ou o superam, o que é pior. O resultado do consumo ascendente não é difícil prever: mesmo ganhando mais dinheiro, a situação financeira, em vez de melhorar, regride.

Pequenas mudanças

Ou seja, apesar do aumento da renda — mesmo substancial —, voltar a viver sem sobra ou de salário em salário como antes é mais comum do que se imagina. Os gastos decorrentes do novo padrão de vida tendem a se tornar maiores, pois mantê-lo será mais dispendioso. E ao comprometer o orçamento pessoal com despesas crescentes, perde-se o controle das finanças a logo prazo.

“Por que as pessoas continuam a se apegar à ideia de que se ganhassem mais dinheiro poderiam economizar? Pequenas mudanças podem significar uma boa quantia guardada”, afirma a escritora financeira Gail Vaz-Oxlade em um artigo publicado no MoneySense. Segundo ela, portanto, poupança tem pouco a ver com quanto dinheiro se ganha; mas sim com gastar menos.

Foto Freepik
Imagem de mulher jovem pensativa e estressada, sentada à mesa da cozinha com papéis e laptop, tentando administrar uma pilha de contas, e frustrada com a quantidade de despesas domésticas. Conceito de economizar
Quando ganhar mais vira problema

Dicas para economizar

Prestar atenção aos supostos pequenos gastos é um bom começo, afirma Gail. Por exemplo, a tarifa mensal de manutenção de conta-corrente, que pode chegar a custar R$ 100, a depender do banco. Porém, ao usar apenas os chamados serviços essenciais — que as instituições bancárias são obrigadas por lei a oferecer —, fica-se isento de pagá-la. Em um ano, a economia terá sido significativa.

Tributar-se por pequenos impulsos de consumo é um truque mental sugerido por Gail para compensar gastos que poderiam ser evitados — e se conscientizar deles também. “Se você gastar R$ 10 para beber um café na rua, adicione R$ 10 à poupança. Grandes economias resultam de pequenas ações. É um equívoco esperar o momento certo para economizar, pois ele nunca chegará”, afirma.

Conclusões até aqui

ⅰ) A inflação do estilo de vida ocorre quando as despesas mensais aumentam à medida que se ganha mais dinheiro.

ⅱ) Gastar mais dinheiro, mesmo ganhando mais, pode se tornar um problema por limitar a capacidade de construir riqueza.

Fatores sociais

Estudos sobre comportamento financeiro, como o Life Cycle Hypothesis, mostram que a inflação do estilo de vida é influenciada por fatores psicológicos e sociais. Não por acaso, a ostentação — para amigos, vizinhos, colegas de trabalho etc. — é uma das razões pelas quais as pessoas gastam mais e mal à medida que a renda aumenta. E talvez seja o maior risco para o equilíbrio das finanças.

Presentear-se com alguns prazeres é outro fator que contribui para a inflação do estilo de vida. Em geral, usa-se como justificativa para os gastos ter trabalhado duro para ganhar o dinheiro. É o chamado senso de direito. Embora compreensível, recompensar-se demais pode ser prejudicial à saúde financeira agora e no futuro, pois também reduz a capacidade de economizar.

Quando gastar mais faz sentido

É natural — e esperado — que haja progresso financeiro com o tempo. Portanto, uma certa inflação no estilo de vida é normal. Muitas vezes, gastar mais faz sentido. Por exemplo, comprar uma casa maior para a família que está crescendo; ou pagar por alguns serviços a fim de ter mais tempo livre para ficar com as pessoas próximas ou fazer um hobby, equilibrando vida profissional e pessoal.

Embora em certas circunstâncias gastar mais seja justificável, é crucial separar necessidades de desejos. Fazer avaliações realistas e honestas sobre cada compra ajuda a tomar decisões financeiras melhores, e a evitar a inflação excessiva do estilo de vida. Conter a euforia e não assumir grandes compromissos imediatamente após o aumento da renda é outra medida preventiva.

Economizar para o futuro

“Trabalhei com pessoas que ganham muito dinheiro e não conseguem economizar um centavo; outras, mesmo com uma renda modesta, são capazes de reservar um pouco para o futuro”, conta Gail Vaz-Oxlade em seu artigo no MoneySense. Em resumo, enquanto uns podem estar falidos e endividados ganhando R$ 200 mil por ano; há quem esteja com as finanças sob controle com R$ 30 mil anuais.

Apesar de ser sempre bem-vindo, o aumento da renda terá pouca serventia — a não ser satisfazer prazeres e desejos imediatos e quase sempre fúteis — se uma boa parte dele não for destinada à criação de uma reserva de emergência e a investimentos para o futuro. Não parece ser um bom negócio trocar uma aposentadoria com folga financeira por gastos descontrolados e desnecessários no presente.

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