Por Redação Foz
Em meio à rotina cada vez mais acelerada e à proliferação de modismos culinários, a segurança alimentar perece ser ainda um tema subestimado nas cozinhas domésticas. Embora tratada como política pública e amparada por um conjunto de normas e recomendações, o zelo pela higiene de alimentos e utensílios muitas vezes se dilui no dia a dia das casas, abrindo brecha para riscos sanitários.
Em toda cozinha, os utensílios se desgastam com o uso constante, tornando-se focos de contaminação. Portanto, adiar a substituição dos mais gastos pode comprometer a qualidade dos alimentos servidos. Rachaduras e fissuras nem sempre visíveis a olho nu costumam abrigar bactérias, que se proliferam no ambiente. Renová-los periodicamente é essencial para garantir a segurança alimentar.
Tábuas de corte: risco oculto
As tábuas de corte — de madeira e plástico — são um exemplo clássico. Aparentemente inofensivas, as fissuras superficiais decorrentes do uso são um refúgio perfeito para bactérias como a Salmonella e a E. coli. Conforme estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), “mesmo bem higienizadas, superfícies desgastadas de tábuas conservam microrganismos resistentes”.
O estudo está em linha com o que diz a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O órgão alerta para os riscos que as superfícies porosas de tábuas representam, especialmente quando usadas para carnes e vegetais sem uma higienização rigorosa. Em países como os Estados Unidos, onde a vigilância sanitária doméstica tem maior tradição, a regra é clara: tábuas muito danificadas devem ser descartadas.
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Esponjas abrigam até 54 bilhões de bactérias
Esponjas são foco de contaminação
A esponja de lavar louça é ainda mais traiçoeira. Publicações ligadas à Universidade de Bonn, na Alemanha, apontam que ela pode abrigar até 54 bilhões de microrganismos, tornando-a potencialmente mais contaminada do que um vaso sanitário. Apesar de tentativas caseiras de esterilização, especialistas recomendam trocá-la semanalmente para mitigar os riscos.
“A renovação frequente não é só uma questão de higiene, é essencial para evitar surtos bacterianos”, afirma Markus Egert, microbiologista da Universidade de Furtwangen, na Alemanha. No Brasil, embora as autoridades sanitárias recomendem a troca semanal, muitos prolongam o uso por meses. O costume expõe a cozinha a contaminações cruzadas e enfraquece as barreiras básicas de proteção alimentar.
Itens de madeira: quando trocar
Outros utensílios de madeira — como colheres e espátulas —, valorizados por sua durabilidade e estética rústica, também exigem atenção. A porosidade natural do material favorece o desenvolvimento de fungos e bactérias. Portanto, a vida útil da madeira não deve ser confundida com segurança. Artigo no The Guardian sugere alternativas mais seguras, como inox e silicone.
Segurança alimentar e potes plásticos
Potes plásticos antigos, arranhados ou deformados representam ainda mais riscos: são difíceis de higienizar e liberam, sob calor, compostos químicos tóxicos, como o bisfenol A (BPA). Para o Center for Environmental Health, nos EUA, “manter recipientes plásticos em bom estado não só é garantia de segurança alimentar, mas também evita impactos cumulativos à saúde”.
O risco à exposição contínua a substâncias como o bisfenol A, sobretudo quando utensílios plásticos são submetidos a altas temperaturas, é comprovado pela OMS (Organização Mundial da Saúde). De acordo com o órgão, os danos ao organismo incluem desequilíbrios hormonais e metabólicos, e recomenda que o consumidor opte por recipientes de vidro ou plásticos certificados.
Facas e segurança alimentar
Facas cegas ou lascadas não dificultam apenas o preparo dos alimentos. Elevam também o risco de acidentes e levam a práticas inadequadas, como o uso de força excessiva para cortar carnes, por exemplo, favorecendo a contaminação cruzada. Portanto, mantê-las afiadas e substituir as danificadas são medidas básicas de prevenção, segundo orientações do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).
Panos de prato ameaçam segurança alimentar
Acumuladores de umidade, resíduos e odores, os panos de prato e de pia, por fim, também escondem riscos pouco visíveis. Um estudo da Universidade de Mauritius, na Ilha Maurício, demonstrou que mais de 49% dos panos analisados apresentaram crescimento bacteriano após apenas um dia de uso, com a presença relevante de patógenos como a Staphylococcus aureus, causador de infecções variadas.
“Os panos de prato são quase um ‘termômetro’ da higiene doméstica”, afirma o microbiologista Markus Egert, da Universidade de Furtwangen, na Alemanha. Não à toa, Anvisa e agências sanitárias internacionais recomendam a lavagem frequente em água quente e a troca regular para manter a segurança alimentar. Com a atenção à saúde em alta, talvez seja a hora de repensar a rotina na cozinha.