Por Redação Foz
Em geral, grande parte das preocupações diárias se concentra em pensamentos sobre o passado ou projeções para o futuro. O presente costuma ser reduzido a uma etapa de passagem, como se fosse apenas o meio para alcançar algo adiante. O desafio, assim, está em valorizar a presença nas ações diárias, como arrumar a casa ou caminhar até o trabalho, quando, de fato, a vida acontece.
“O momento presente é tudo o que realmente temos”, escreveu Eckhart Tolle em O poder do agora. Para o autor, a atenção plena não exige esforço extraordinário, mas a disposição de perceber o que se vive sem a pressa de chegar ao próximo instante. Ao trazer a consciência para o agora, afirma, as interferências que alimentam a ansiedade e a desconexão são reduzidas ou eliminadas.
O valor da presença no cotidiano
Presença, portanto, significa desacelerar e dedicar atenção plena a cada ação. Por exemplo, conversar sem olhar o celular, caminhar sem pressa ou comer sem se deixar levar por distrações. A prática dá sentido às atividades mais triviais. Tolle argumenta que “fazer uma coisa de cada vez” é o caminho para reduzir a agitação mental e trazer paz interior. “O estado natural da mente é a divagação”, afirma.
Ao observar que a mente está sempre projetando cenários, Tolle aponta o risco de viver preso a um fluxo de pensamentos. “O ego quer controlar, quer se apressar, quer se ocupar o tempo todo”, diz. A saída, de acordo com ele, não está em lutar contra, mas em notar a distração e retornar ao presente. “Quando você lava pratos, apenas lave pratos”, sugere. Assim, evita-se a ansiedade que costuma vir junto da pressa.
Presença e ciência em convergência
O escritor Eckhart Tolle sugere que treinar a presença altera circuitos cerebrais ligados à memória e à regulação emocional; e aponta que a prática regular de atenção plena está associada a menor estresse e maior capacidade de concentração. O argumento reforça a percepção de que a presença não é apenas um ideal filosófico, mas também um meio simples de cuidado mental.
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Presença é prática diária
A urgência do agora
“Não espere por um futuro melhor para começar a viver”, adverte Tolle. Conforme diz, a expectativa de um dia ideal ou de um momento perfeito costuma funcionar como armadilha. Em vez de chegar, o futuro imaginado é sempre adiado, e a sensação de incompletude se repete. Portanto, a saída está em ancorar a atenção no que acontece agora, mesmo quando o cenário parece banal.
A presença, contudo, não implica renunciar a planos ou memórias, mas relativizar seu peso. O futuro exige preparação, mas não deve anular a experiência do instante. Da mesma forma, o passado carrega aprendizados, mas não pode aprisionar em lembranças ou arrependimentos intermináveis. Entre os dois extremos, a presença se coloca como alternativa mais equilibrada.
Vínculos que se fortalecem
No campo das relações pessoais, a presença também ganha relevância. Ouvir sem interrupções, sem verificar o celular ou antecipar respostas, fortalece vínculos e aumenta a sensação de reconhecimento mútuo. A qualidade da interação não depende da duração da conversa, mas da intensidade da atenção dedicada a ela. Em contrapartida, a dispersão fragiliza a conexão interpessoal.
O ambiente digital se tornou um desafio adicional. A sucessão de notificações, mensagens e estímulos mantém a atenção fragmentada. Um artigo publicado na revista Science aponta que a alternância constante de foco reduz a capacidade de retenção e aumenta a fadiga mental. O cultivo da presença, em contextos assim, exige escolhas conscientes sobre o tempo de conexão e o tempo de pausa.
“Não é o que acontece, mas como reagimos, que determina nossa experiência”, observa Tolle. A frase sintetiza a proposta central da presença: deslocar a atenção para o que está sob controle imediato. A mudança de perspectiva não elimina contratempos, mas modifica a forma de lidar com eles, evitando a sensação de estar sempre em dívida com o tempo.
Armadilhas da idealização
No entanto, o risco de transformar a presença em obrigação é real. Quando convertida em mais uma tarefa na lista, perde-se justamente a leveza que a caracteriza. “A vida é agora. Nunca houve um momento em que sua vida não fosse agora”, escreve Tolle. Não se trata de vigiar cada gesto, e sim de cultivar momentos em que a mente deixa de vagar entre pressa e preocupações.
O desafio, portanto, não está em buscar técnicas complexas, mas em experimentar pausas simples no cotidiano. Ao desligar a pressa e dar atenção plena a cada ação, abre-se espaço para que a presença deixe de ser apenas conceito e se torne prática diária. A experiência mostra que é no detalhe do instante que o tempo ganha densidade. E como qualquer aprendizado, demanda repetição e paciência.
