Por Redação Foz
Antes pouco notados, os produtos lácteos modificados parecem ter conquistado de vez espaço nas prateleiras dos supermercados. A versão alterada do leite condensado, por exemplo, é descrita no rótulo como mistura láctea condensada de leite, soro de leite e amido. O creme de leite, por sua vez, pode ser encontrado como alimento à base de leite, creme de leite e gordura vegetal.
Atenção às descrições nos rótulos
É verdade que produtos à base de leite modificados não são novidade. Já existem há algum tempo no mercado. A diferença é que agora estão bem mais comuns. E com um agravante: um consumidor desatento pode não notar os detalhes diferentes na embalagem e acabar levando para casa o produto alterado em vez do tradicional, pois ambos ficam expostos lado a lado nas prateleiras.
Muitas vezes, inclusive, o produto modificado aparece substituindo o tradicional, quando este está em falta no supermercado. Mas o que explica, afinal, o aumento recente da oferta pela indústria de produtos lácteos alterados? Segundo a Embrapa, a escassez de matéria-prima, a inflação e a crise econômica estão por trás da mudança. Desde 2021, o custo de produção do leite subiu 62%.
O aumento afetou a indústria, que, para compensar, decidiu substituir parte do leite na produção de derivados, introduzindo no lugar o soro de leite, um composto que antes era descartado no processo de fabricação de queijos. Para cada quilo de queijo produzido, são gerados, em média, oito litros de soro. É bom lembrar que, apesar de conter menos nutrientes, o soro de leite não é prejudicial à saúde.
Fotos Reprodução
Idec alerta que os laticínios modificados contêm menos proteínas e vitaminas
Confira as novas versões de leite e seus derivados
Leite e iogurte (bebidas lácteas)
Queijo ralado (mistura alimentícia de queijo ralado)
Leite em pó (composto lácteo)
Requeijão cremoso (mistura de requeijão e amido ou mistura láctea sabor requeijão)
Manteiga (alimento à base de manteiga e creme de leite)
Doce de leite (doce de soro de leite sabor doce de leite)
Além de ingredientes como amido, gordura vegetal e açúcar, utilizados para dar consistência e sabor, alguns laticínios novos recebem ainda substâncias químicas, como aromatizantes, adoçantes e emulsificantes. Logo, atenção às informações miúdas da embalagem, mas também às mais destacadas. Independentemente da marca, as diferenças são bem sutis e podem enganar o consumidor.
Eis alguns detalhes a serem observados: se a palavra “sabor” consta no rótulo, significa que foram adicionados aromatizantes para realçar o paladar. É o caso do leite em pó (pó para preparo de bebida “sabor” leite) e de leites e iogurtes (bebidas lácteas “sabor” morango). Portanto, ler a parte frontal da embalagem ajuda a distinguir, por exemplo, o iogurte tradicional de uma bebida láctea.
Produtos lácteos modificados têm menos nutrientes
Do ponto de vista nutricional, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) alerta que os laticínios modificados contêm menos proteínas e vitaminas, resultando, assim, em prejuízo alimentar. E muitos recebem um acréscimo maior de açúcar. O consumidor deve atentar também para as substâncias terminadas em “ante”, como corantes, adoçantes e emulsificantes.
Um artigo recente publicado na Nutrients revela que o soro de leite tem uma base sólida muito inferior à do leite. Ou seja, ele é basicamente água com uma quantidade menor de proteínas e carboidratos, resultando em um produto final bem mais pobre do ponto de vista nutricional, além de comprometer receitas que dependem da gordura para sua estrutura, como bolos e pudins.
Doces podem ficar sem a consistência ideal
Doces como brigadeiro e similares também podem não atingir a consistência ideal quando feitos com a versão modificada do leite condensado. A Nestlé, fabricante do Leite Moça, informa que o novo produto tem os mesmos ingredientes do Moça tradicional, mas em quantidades diferentes, e com adição de soro de leite e amido. Mas não contém gordura vegetal, estabilizantes ou espessantes.
Segundo a empresa, a nova fórmula do leite condensado não afeta a qualidade do produto, e é uma opção mais barata. Uma ida ao supermercado, porém, mostra que a diferença de preços entre os produtos tradicionais e os modificados não é tão significativa. Às vezes é de apenas alguns centavos. Dica para não errar na hora da compra: a embalagem do novo Leite Moça é marrom, enquanto a do original é azul.
Ainda segundo o Idec, o uso do soro de leite como alternativa ao leite para reduzir o custo de produção de produtos lácteos tem uma contrapartida: a utilização de compostos químicos para que fiquem agradáveis ao paladar, o que os transforma em alimentos ultraprocessados — que, por recomendação do Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, devem ser evitados.
Produtos lácteos modificados são seguros, diz Anvisa
Apesar de não recomendados, os laticínios alterados parecem não ser vistos como nocivos à saúde. A produção e a comercialização são regulamentadas e liberadas pela Anvisa e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O que os nutricionistas mais desaprovam é a semelhança entre as embalagens do produto original e do modificado, que também exibem vacas, pastos e líquidos brancos.
Bem, mesmo que o custo de produção do leite caia no futuro — o que só será possível com a queda do preço da energia elétrica, do combustível e da ração que alimenta as vacas, entre outros —, tudo indica que os novos produtos lácteos vieram para ficar. Cabe ao consumidor se manter sempre informado e atento para fazer escolhas conscientes de consumo. Sobretudo de produtos alimentícios.