Por Redação Foz
Saber que cartas manter e quais descartar é o que distingue o bom do mau jogador, e o sucesso ou não no jogo. Ser capaz de discernir quando preservar algo ou deixar ir — pessoas, sentimentos, hábitos, trabalho etc. —, não é menos decisivo no enfrentamento de pensamentos, atitudes ou crenças limitantes; apegos; opiniões alheias, entre outros obstáculos ao autodesenvolvimento.
“Desapegar do que nos pesa emocionalmente é crucial para uma boa saúde mental e emocional”, afirma a psiquiatra e autora best-seller do New York Times Judith Orloff, para quem a relação entre abrir mão e sanidade mental é estreita. Liberar-se do que não traz mais felicidade, diz, é transformador, pois, além de bem-estar, proporciona uma sensação de liberdade que apenas o desapego pode oferecer.
Às vezes, deixar ir não é simples
Embora lidar com escolhas seja natural, fazê-las nem sempre é simples — sobretudo as que envolvem afetividade, por exigirem uma dose maior de razão em relação à emoção. Segurança e familiaridade também costumam pesar nas tomadas de decisão que implicam desapegar. Por outro lado, abandonar o que não faz mais sentido pode significar a abertura de espaço para novas experiências e crescimento.
Para o psicólogo clínico americano John Gottman, relacionamentos nos quais não há mais felicidade e base para crescer devem ser repensados. “Por mais difícil que pareça à primeira vista, às vezes deixar ir é a melhor solução”, afirma. E ele não se refere apenas a pessoas. Largar ressentimentos para trás é igualmente essencial. “Aprender a perdoar é a chave para o equilíbrio emocional”, conclui.
Decidir molda o destino
Pior do que adiar ou tomar uma resolução equivocada quando se está diante de um dilema, é agir com base na opinião alheia. Como diz o escritor e palestrante americano Tony Robbins, o destino é moldado a cada decisão. Assim, seguir conselhos de amigos ou parentes — ou de quem quer que seja — significa na prática delegar a terceiros a condução da própria vida.
A consequência é se tornar alguém forjado por decisões externas; que abriu mão, por medo ou insegurança, de aprender com as más resoluções a fazer escolhas melhores no futuro — e de viver de acordo com elas. “O medo desnecessário de uma má decisão é um grande obstáculo para boas decisões depois”, ensina o blogueiro japonês Jun Camp, um adepto de acampamentos e autor de artigos sobre o tema.
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Libertar-se implica deixar ir
Razões para deixar ir o luto
São muitas as circunstâncias em que deixar ir é saudável. O luto é mais uma delas. Por mais doloroso que seja, prolongar o sofrimento pela perda de um ente querido pode levar, por exemplo, à depressão crônica. Um estudo publicado na The Lancet Psychiatry revela que o pesar não resolvido pela morte de alguém tem potencial para desencadear psicopatologias e processos inflamatórios perenes.
Para a psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross, pioneira no estudo do tema, o luto é um processo durante o qual é preciso se desapegar da perda e encontrar uma nova maneira de viver. “Reconhecer as fases do luto — negação, raiva, barganha, depressão e aceitação — é o primeiro passo para uma recuperação saudável”, diz. Abaixo, mais situações em que deixar ir costuma ser a decisão certa a tomar.
Quando deixar ir
Relações tóxicas — Negatividade inibe atitudes e afeta o equilíbrio emocional. O risco quando se tem compaixão por pessoas tóxicas é parecer aceitar e tolerar comportamentos prejudiciais. Portanto, estabelecer limites é fundamental, sob pena de ter a vida e todos os outros relacionamentos comprometidos.
Mágoas — Ao longo da vida, traumas diversos podem deixar feridas emocionais abertas no tempo, impedindo a cura da dor, cujo remédio é perdoar. Não por causa dos outros, mas por si mesmo. Perdão liberta, e libertar-se implica deixar ir.
Objetos e bens materiais — Pode parecer que não, mas se desfazer de objetos e bens materiais em excesso ou desnecessários — e muitas vezes adquiridos por impulso — tem influência direta no bem-estar e na qualidade de vida. “Desapegar-se de itens que nada significam além de acúmulo libera não apenas espaço físico, mas também mental”, afirma a especialista em organização pessoal Marie Kondo.
Maus hábitos — Roer unhas e não agredir o corpo com comida ruim são alguns exemplos de hábitos que devem ser deixados, assim como a procrastinação, a falta de força de vontade e a apatia. Descumprir promessas feitas a si mesmo é outro. A boa notícia é que para fazer escolhas melhores basta querer.
Mentiras — Além de desonesto, mentir nunca é uma boa estratégia. Para os outros, implica invariavelmente na perda de reputação; para si mesmo, na autodestruição e infelicidade. Exemplos: fingir estar feliz com a vida que leva; ou tentar se convencer que ama o trabalho que tem. Independentemente do que seja, deixar a mentira ir é sempre a melhor opção. Em geral, ninguém gosta de ouvir que é responsável pelas escolhas que faz, mas é. Não escolher é também uma escolha.
Filosofia de vida
Felizmente, a habilidade de deixar ir pode ser aperfeiçoada com o tempo. Parece desafiador — e é —, mas o ganho em termos de crescimento pessoal compensa. Desapegar do que não serve mais torna a jornada mais leve e rica. Porém, mais do que uma simples ação de se libertar de algo ou alguém, o desapego deve ser adotado como filosofia de vida — e de transformação da existência em novas experiências e realizações.