Compatibilidade costuma ser subestimada nas relações

Compatibilidade nem sempre é percebida à primeira vista
Por Redação Foz

Quase sempre subestimada no início das relações, a compatibilidade — ou a falta de — tende a ganhar mais relevância à medida que elas se estreitam e se aprofundam. A não ser que as diferenças sejam muito aparentes, dificilmente a falta de sintonia entre valores, objetivos ou personalidades é percebida à primeira vista. É claro que a combinação não precisa ser total. Nem deve. Pequenas divergências podem ser úteis.

Por exemplo, alguém que tenha como característica predominante ser amável e gentil, talvez precise achar um equilíbrio para saber reagir a eventuais circunstâncias inamistosas. Ao namorar ou ter ao redor uma pessoa mais meio-termo, pode se beneficiar assimilando traços comportamentais dos quais carece. E vice-versa. Não são raros os casos em que a divergência agrega.

Baixa compatibilidade

Diferenças do bem à parte, a máxima de que os opostos se atraem é uma falácia no cotidiano. Minimizar a incompatibilidade é a antessala dos relacionamentos malsucedidos. Persistir, resulta invariavelmente em conflitos recorrentes e, como resultado, no desfecho em algum momento. Para ilustrar, que futuro pode ter a relação de uma pessoa muito extrovertida com outra mais introvertida?

O descompasso tende a gerar atritos constantes sobre a intensidade de atividade social que se deve ter. E chegar a um consenso não é tão fácil. Introvertidos têm aversão a interações frequentes em grande escala. Sentem-se melhor com menos gente à volta ou a dois; são mais intimistas. Extrovertidos são a antítese. Assim, a propensão é que se cansem um do outro. Abaixo, outras situações de baixa compatibilidade.

Mais versus menos agradável — Para pessoas agradáveis — mais inclinadas a ceder e a concordar —, as menos agradáveis às vezes não são uma boa companhia. Quando há um impasse na relação, o desequilíbrio temperamental tende a desgastar e a fragilizar em especial as mais habituadas a abrir mão.

Trabalho 24×7 — Para quem tem uma rotina normal de trabalho, relacionar-se com quem nunca se desliga do trabalho, nem nos fins de semana, não costuma “dar bom”, como se diz na gíria. Conviver com alguém que está sempre tenso não é lá muito harmonioso. Afinal, relaxar e se divertir é preciso.

Desordem — Pessoas organizadas, avessas à bagunça, terão dificuldade de morar com as desordenadas. Estas vão acusá-las de se preocupar demais com detalhes em vez de relaxar. As primeiras, em contrapartida, vão considerar as desordeiras um peso a mais nos afazeres domésticos, e passar a questionar a relação. Resultado: estresse, desgaste e, não raro, separação.

Neuroticismo — Baseado em observações clínicas, pessoas com alto nível de neuroticismo — mais propensas do que a média a sentir ansiedade, raiva, frustração, ciúme, mau humor etc. — são difíceis de combinar. Principalmente com outras com as mesmas propensões. Logo…

Pistas para a compatibilidade

Para Jordan Peterson, um dos psicólogos clínicos mais influentes da atualidade, com livros publicados em mais de 40 países, relações estabelecidas com base na confiança, e nas quais há espaço para negociar, são uma boa aposta. “Além da confiança, a pessoa certa é aquela com quem se pode negociar, porque sempre haverá algum conflito. E quando negociada, a solução é conciliadora.”, diz.

A negociação tem ainda como efeito não só manter, mas expandir as relações. “Mesmo nos melhores relacionamentos, será preciso negociar para que se possa mantê-los e expandi-los”, afirma Jordan. Portanto, há boas razões para levar adiante vínculos nos quais prevaleça a disposição para acordos compensatórios e satisfatórios diante de um problema. Até porque, a vida é passageira.

Fotos Unsplash e Brodie Vissers
Relações estáveis e felizes envolvem negociar
Relações estáveis envolvem negociar

Atração importa

As relações mais promissoras, porém, não são baseadas apenas em confiança e negociação. É necessário haver também uma boa dose de atração física. A tríade, quando combinada com objetivos na mesma direção, em especial os mais importantes, como economia doméstica, carreira e filhos, dá a sustentação fundamental para um relacionamento forte, significativo e duradouro.

É desejável, contudo, que o interesse sexual recíproco demonstrado no início do relacionamento permaneça ao longo do tempo. Quando um dos lados esfria, cria-se uma lacuna difícil de ser preenchida apenas com romantismo e boa vontade. “Na prática clínica, já vi casais tentarem seguir como amigos, mas sem sucesso. A centelha que desperta a paixão física parece indispensável”, afirma Jordan Peterson.

Compatibilidade, quem liga?

Se os relacionamentos são motivados pelo contato sexual, e ter relações casuais passageiras está cada vez mais fácil, por que criar vínculo e ter de se preocupar com compatibilidade? Simples: a facilidade foi criada pela tecnologia. Do ponto de vista biológico, o comportamento humano segue o mesmo. Ou seja, as pessoas vão continuar desejando uniões mais significativas e não apenas fisiológicas.

E pelas mesmas razões conservadoras de sempre: ter alguém ao lado na longa viagem da vida; construir uma união estável a dois; procriar etc. Relacionamentos fixos promovem ainda aprendizado, amadurecimento e crescimento psicológico. Ademais, duas cordas entrelaçadas são mais fortes para enfrentar juntas as turbulências e superar as fases frágeis. Nada que relações breves possam oferecer.

Aconselhamento

Além de compromissos e responsabilidades, há alguns desafios no caminho de uma relação estável. Trabalhar juntos para que o relacionamento não se deteriore com o tempo talvez seja o maior deles. “Reservar um tempo duas vezes por semana para conversar sobre suas vidas, a administração da casa, e o que os dois têm feito vai mantê-los não só atualizados, mas ligados um ao outro”, aconselha Jordan.

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