Por Redação Foz
Por tudo que ensina, morar sozinho é uma experiência pela qual todos — em especial, os homens — deveriam passar antes de viver sob o mesmo teto com alguém. Aprende-se muito, sobretudo em relação às tarefas domésticas. Por exemplo, planejar, preparar e cozinhar todas as refeições. Ver-se como responsável quando há bagunça e sujeira, e saber quem terá de arrumar e limpar, é outra lição importante.
Quando se tem de lidar com os afazeres domésticos por conta própria — há outros, além de cozinhar, arrumar e limpar —, é inevitável se ver no lugar do outro, e reconhecer que a empatia é indispensável para um relacionamento conjugal harmonioso e justo. Além de desarmar conflitos, a compreensão mútua tende a levar ao crescimento e ao fortalecimento do vínculo afetivo e, por conseguinte, da parceira.
Tarefas domésticas equilibradas
De acordo com números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2018, apesar do crescente envolvimento dos homens nos encargos cotidianos — em comparação com dados colhidos no passado —, ainda são as mulheres que carregam a maior parte do fardo, dedicando o dobro do tempo às tarefas domésticas.
A socióloga Milena do Carmo, coordenadora do Instituto Promundo — ONG que trabalha com a promoção da equidade de gênero em várias frentes —, atribui a valores culturais a resistência dos homens às rotinas da casa. “O arranjo tradicional é que o homem é o provedor e a mulher é a cuidadora. Mas já é possível detectar um equilíbrio maior entre os novos adultos, em especial na classe média”, afirma.
Mulheres fazem mais tarefas
Embora mais equilibrada, a divisão desigual das tarefas domésticas segue sendo uma das causas principais do desgaste conjugal, aponta um estudo publicado na Revista Americana de Saúde Pública (AJPH, na sigla em inglês). Ou seja, a partição mais justa não fez com que as mulheres deixassem de ser as maiores responsáveis pelos afazeres da casa, independentemente da sua condição profissional ou nível educacional.
Em outro estudo, desta vez publicado na Springer Nature, de 393 mães nos Estados Unidos — a maioria de classe média alta com filhos dependentes —, cerca de 2/3 disseram assumir sozinhas a responsabilidade pelas rotinas da casa, como organizar os horários da família e manter a ordem no lar. Casais do mesmo sexo, em contrapartida, tendem a dividir as tarefas de forma mais igualitária, mesmo com crianças.
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Planejar tarefas é boa estratégia
Jornada múltipla
Curiosamente, a desigualdade persiste por causa de uma mudança social positiva: a inserção crescente da mulher no mercado formal de trabalho a partir dos anos 1960. No final da década de 1970, a relação era de sete homens para três mulheres em cada grupo de dez trabalhadores. Hoje, a participação feminina na população economicamente ativa quase se equipara à masculina.
Natália Fontoura, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), explica que a participação maior das mulheres no mercado de trabalho não alterou de forma significativa as configurações domésticas. “Como resultado, a mulher passou a exercer uma jornada múltipla: além do seu novo papel como trabalhadora formal, ela ainda precisa cumprir as tarefas do lar”, diz.
Tarefas domésticas como estresse
Em tese, relacionamentos e casamentos são parcerias, mas precisam ser confirmadas no dia a dia, como na rotina doméstica, que não se resume a limpar e cozinhar. Planeamento (sobre ter ou não filhos e quando); puericultura (desenvolvimento dos filhos); gestão financeira; manutenção da casa; e compras são algumas outras tarefas. Quando não divididas com justiça, geram estresse e problemas diversos (ver abaixo).
Insatisfação — Quando um dos dois sente que está fazendo mais do que a sua parte na divisão das tarefas, a tendência é que fique menos satisfeito com o relacionamento no decorrer da união.
Angústia — Pesquisa mostra que a jornada múltipla das mulheres — e das mães, em particular — eleva o estresse emocional, podendo levar a uma angústia significativa.
Saúde mental — Estudo descobriu que mulheres sobrecarregadas com o trabalho doméstico apresentam mais sintomas de depressão.
Risco de divórcio — Um estudo de 2016 descobriu que a divisão desigual dos afazeres domésticos, associada à falta de emprego formal do homem, era o fator de risco mais forte para o divórcio.
Ajuda não é solução
Apesar dos benefícios comprovados para a relação, a divisão dos afazeres de casa nem sempre é discutida seriamente antes da convivência de fato. E ter de pedir ajuda ao parceiro para que uma tarefa seja feita não é o melhor dos cenários, pois exime de responsabilidade por ela aquele que presta o favor, mantendo-se assim a desigualdade — se for o caso. Abaixo, dicas de como tornar a rotina doméstica mais justa.
Rotina mais justa
Prioridades — O ideal é definir as tarefas prioritárias antes de dividi-las, e a frequência com que devem ser feitas. Por exemplo, o banheiro vai ser limpo com quantos dias de intervalo? A cama deve ser arrumada logo de manhã? As refeições vão ser preparadas sempre em casa ou pedidas de vez em quando? Enfim, a lista é longa.
Divisão por habilidades — As tarefas devem ser divididas por habilidades. Aquele que cozinha melhor, faz a comida; o mais organizado, se encarrega de manter tudo em ordem; e assim por diante.
Tarefas indesejadas — Dizer quais tarefas cada um detesta fazer também é importante. O que um odeia, o outro pode ser capaz de tolerar. Se ambos não gostam da mesma tarefa, a solução talvez seja enfrentá-la juntos, como uma equipe; ou pagar alguém para fazê-la.
Relógio biológico — De preferência, as tarefas devem ser feitas no horário em que cada um se sente mais disposto. Portanto, forçar um ao outro a executar uma incumbência de manhã, se a opção for realizá-la à tarde ou à noite, só cria tensão.
Plano semanal — Planejar as tarefas da próxima semana e decidir quem vai fazer o quê é uma boa estratégia, e ajuda ambos a se organizar. Nada impede que haja um revezamento na execução também.
Não culpar — Culpar o parceiro por não realizar uma tarefa não é uma atitude amigável. Assim, ser flexível e permitir que ele ou ela a faça a sua maneira é o mais sensato.
Contratar ajuda — Quando não der para conciliar todas as tarefas com a rotina profissional, o melhor é contratar alguém para fazer uma ou outra. De preferência, as que ambos consideram mais pesadas ou detestáveis.