Por Redação Foz
Até certo ponto, o desejo por açúcar é fisiológico. Glicose é fonte de energia para o corpo, e o organismo é programado para extraí-la dos alimentos. Porém, naturais, e não de doces, bolos, tortas, refrigerantes, chocolates e guloseimas — ou de diversos produtos industrializados à venda no supermercado. Estes exigem moderação, pois a combinação entre açúcar e dopamina vicia de fato.
Não é exagero. Estudos científicos comprovam que comestíveis açucarados exercem no cérebro o mesmo efeito do álcool e dos opiáceos — drogas derivadas do ópio, sintéticas e semissintéticas —, liberando no organismo substâncias associadas ao prazer e ao bem-estar, como endorfina e dopamina. A consequência é a busca constante por açúcar e o desencadeamento de um ciclo vicioso de dependência.
Riscos do ciclo açúcar e dopamina
Além da dependência em si, o consumo frequente de açúcar diminui a sensibilidade à dopamina e à endorfina ao longo do tempo. Ou seja, o cérebro passa a ficar mais exigente, e a sensação de satisfação só é alcançada quando se ingere quantidades cada vez maiores de comestíveis doces. O resultado não é difícil prever: obesidade, diabetes tipo 2 e um estado de inflamação permanente do corpo.
Como reduzir desejo por doces
Reduzir ou mesmo eliminar a compulsão por doces envolve autocontrole e algumas estratégias. De acordo com Nicole Avena, médica e professora na Mount Sinai School of Medicine e na Universidade Princeton, suspender completamente o consumo — em vez de diminui-lo aos poucos — é o método mais eficaz. “Depois de anos de consumo, o condicionamento fisiológico dificulta a tentativa de parar gradativamente”, diz.
O passo seguinte é resistir aos sintomas da abstinência — irritabilidade, fadiga e até mesmo dores de cabeça. Recaídas têm potencial para desencadear desejos ainda maiores por doces. Já em café, leite, sucos, chás e bebidas em geral, diminuir gradualmente a adição de açúcar pode ser a melhor saída. Com o tempo, o paladar tende a se adaptar a pouca ou mesmo nenhuma substância adoçante.
Fotos Merve Aydin e Denny Müller
Doces liberam substâncias ligadas ao prazer
Adotar estratégias
Pode parecer muito difícil — sobretudo para os mais compulsivos —, mas vencer o desejo descontrolado por açúcar é perfeitamente possível com a adoção de algumas estratégias relativamente simples. Por exemplo, (ⅰ) comer refeições ricas em proteína e gorduras saudáveis; (ⅱ) não criar gatilhos, descartando ter à mão alimentos açucarados.
Outras medidas
• Substituir alimentos processados, doces e guloseimas por frutas, como melancia, manga, caqui, laranja lima, banana, mamão etc. Além de ricas em açúcar natural, fornecem nutrientes essenciais para uma vida saudável.
• Planejar refeições saudáveis e balanceadas pode ajudar a inibir a tentação por alimentos açucarados quando se tem fome.
• A vontade por açúcar pode estar associada à desidratação. Beber água ao longo do dia é uma ótima estratégia para evitar falsos desejos.
• Alimentos ricos em proteína são indispensáveis na luta contra o açúcar. Por exemplo, peixe, aves, carnes bovina e suína, ovos, queijo, arroz e feijão são alguns deles.
• Assim como a proteína, gorduras saudáveis também são essenciais para combater o desejo por açúcar. Alguns exemplos são nozes, sementes de girassol e de abóbora, amêndoa, castanhas, abacate etc.
• Atividade física regular é uma forte aliada da alimentação quando se trata de evitar a ingestão de açúcar. Ela não apenas promove a saúde de uma maneira geral; faz também com que o cérebro libere endorfina, proporcionando sensação de prazer e, consequentemente, reduzindo a vontade por comestíveis doces.
Ansiedade resulta em açúcar e dopamina
Em geral, o desejo por açúcar está associado à chamada fome emocional, uma sensação de vazio não físico provocada por sentimentos como ansiedade, angústia, tristeza ou tédio. Para tentar preenchê-lo, as pessoas quase sempre recorrem a alimentos pobres em nutrientes e ricos em açúcar, como fast food e doces, que estimulam a liberação da dopamina.
O efeito, contudo, é passageiro, fazendo com que o desejo por açúcar seja frequente. O que, obviamente, é péssimo para a saúde. Porém, mais importante que o autocontrole, é atentar para a causa do desconforto emocional, gerador da fome análoga. Existem muitas estratégias fáceis de ser adotadas. Mas em casos extremos, é mais indicado procurar ajuda profissional.
Estresse inibe saciedade
Não é incomum que depois de um dia estressante se queira comer algo doce ou gorduroso. Sob tensão física ou emocional, uma substância chamada cortisol — também conhecida como hormônio do estresse —, é liberada para suprir, por meio da glicose, a necessidade do corpo por energia. Quando o nível de cortisol se mantém alto por muito tempo, a vontade de comer se impõe.
E a preferência é por alimentos ricos em açúcar e gordura, pois estimulam a liberação de dopamina e endorfina, causadores da sensação de prazer e bem-estar. E não é só. Cortisol em excesso desequilibra também os hormônios que controlam o apetite (grelina e leptina), responsáveis, respectivamente, pela fome e a saciedade — aumentando, claro, a primeira e diminuindo a segunda.
Resistir é preciso
Não bastassem os estímulos de fundo emocional, quem quer que esteja tentando não ceder ao desejo por açúcar precisa resistir ainda aos de origem publicitária. Comestíveis doces associados a momentos felizes e recompensas cria uma conexão psicológica que torna o desafio de não sucumbir ainda mais difícil. A tomada de consciência talvez seja a chave para perceber que é apenas marketing. E resistir.