Por Redação Foz
Assim como existem regras de boas maneiras à mesa — não apoiar o cotovelo sobre o tampo; não comer de boca aberta; e evitar conversas inadequadas são algumas delas —, há também um conjunto de normas voltadas para a convivência a dois, chamadas de etiqueta de casal ou de relacionamento. Para recém-namorados ou casados, conhecê-las pode evitar muitos dissabores.
Mas as normas de etiqueta se aplicam também a relacionamentos maduros. Quando adotadas, costumam transformar para melhor a convivência, muitas vezes evitando separações iminentes. “Muitos dizem que se tivessem conhecido as regras ainda solteiros, teriam tido um casamento muito diferente”, afirma o terapeuta de casais e escritor Luiz Hanns, autor do livro “A equação do casamento”.
1a falta de boas maneiras
Mesmo havendo atração sexual e liga psicológica entre o casal, explica Luiz Hanns, o relacionamento pode desandar por causa de equívocos recíprocos que são cometidos. Portanto, não dá para subestimar as regras conjugais de etiqueta. Ao segui-las, evita-se uma série de descaminhos desnecessários, tornando o convívio não só mais agradável, mas à prova de desgastes significativos.
No livro, Hanns dedica um capítulo inteiro ao assunto, lista as boas maneiras a serem seguidas e ensina como praticá-las por meio de exercícios. Uma das citadas é a falta de diplomacia, sobretudo da mulher em relação ao parceiro — embora também ocorra no sentido inverso. “Mas é menos comum”, observa. Segundo ele, as mulheres tendem a achar que, se não podem desabafar em casa, dizer o que pensam, não faz sentido estar casada.
Queixas fora de hora
O problema, porém, não está no que é dito, mas no como e quando. Por exemplo, o parceiro chega do trabalho ou de qualquer outro lugar e é logo recebido com queixas ou cobranças assim que põe os pés em casa. “Não há casamento ou relação que sobreviva a atitudes assim. O assunto pode até ser legítimo, mas é preciso saber o momento certo de abordá-lo, sobretudo quando se vive sob o mesmo teto”, diz Hanns.
Criticar o parceiro ou a parceira por não se cuidar quando adoece; apontar que a roupa escolhida para sair não está combinando; ou não querer transar por uma birra qualquer são outros exemplos de desrespeito à regra da diplomacia. Para Hanns, espontaneidade não é o mesmo que falar sem pensar; muito menos no tom errado. “As mulheres não costumam ter muito tato quando algo as incomoda”, diz.
Caçoar fere boas maneiras
Costume típico de homens, caçoar da parceira em público é outro exemplo de falta de etiqueta. Para Hanns, é um equívoco grave, que mina a relação aos poucos. “Para o parceiro e as pessoas presentes pode ser extremamente engraçado, mas ela — ou ele, se for o inverso —, mesmo que não demonstre e até ria junto, no fundo pode estar se sentindo diminuída ou ofendida. E é deselegante”, afirma.
Portanto, fazer bullying com a parceira ou o parceiro fere as regras de boas maneiras a dois. “Quer zombar ou fazer piada a respeito de alguém, faça de si mesmo, mas nunca da sua mulher ou do seu marido”, completa. Segundo ele, o uso da zombaria como diversão deve se limitar aos homens entre si — em que é normal e quase uma tradição — e a brincadeiras entre irmãos.
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Críticas acabam com o casamento
Má vontade
Outra quebra de etiqueta que os homens cometem com frequência é ceder com má vontade a um pedido da parceira, seja para ir ao cinema assistir a um filme que só ela quer muito ver; visitar parentes dela; ou fazer compras de Natal. Mas não é só. Concordar a contragosto e comunicar a intenção de cobrar uma contrapartida mais adiante é ainda pior. Substitui-se a empatia pela barganha.
“Independentemente do pedido, é importante atendê-lo com elegância e plenitude. Se, por exemplo, o filme não agrada, que se busque algo de bom nele para elogiar, seja a atuação de um ator ou uma atriz; a trilha sonora; a fotografia”, aconselha Hanns, para quem o convívio conjugal precisa ser naturalmente prazeroso em quaisquer circunstâncias. Má vontade e reclamações quebram o encanto em pouco tempo.
Gesto de boas maneiras
Mas reclamar é um erro de etiqueta que as mulheres também cometem, em especial ao fazerem observações críticas quando o marido quer receber em casa um amigo de infância; um primo de quem elas não gostam; ou colegas de trabalho para um encontro informal. Para Luiz Hanns, ser um facilitador das relações do cônjuge é um gesto chave do mandato matrimonial, e uma demonstração de elegância e boas maneiras.
“Embora seja um erro cometido mais por mulheres, não é exclusivo delas. O marido precisa também se pôr à disposição quando sua mulher quiser fazer o mesmo”, afirma Hanns. Ademais, diz, não arranca pedaço doar algumas horas em favor do cônjuge e, por tabela, da união. Para ele, a exemplo dos pedidos, a facilitação precisa ser feita igualmente com plenitude.
Atenção às críticas
Um estudo feito pelo psicólogo clínico e pesquisador americano John Gottman mostra que as críticas têm um efeito devastador no casamento. Sobretudo se tenderem mais para negativas do que positivas. Se a proporção for de quatro para uma, por exemplo, é prenúncio de que a relação está apodrecendo, e vai culminar em separação. Ou então virar um relacionamento zumbi.
Tão grave quanto o índice maior de críticas negativas, é o teor, a rispidez e a recorrência com que são feitas. Massacrar o cônjuge com expressões do tipo “você é um pai ou mãe omissa”; “se veste mal”; “é inculto(a)”; “é inepto(a)”; “sua família é desagradável”; etc. tem não só um alto poder para destruir o casamento, mas também de causar danos psicológicos e levar à depressão.
Pensar bem
Portanto, é prudente se questionar bem antes de fazer uma crítica negativa. Por exemplo, é realmente necessária? O momento é adequado? É mais um desabafo? Uma mania perfeccionista? Enfim, a etiqueta de casal exige que se pense seriamente sobre emitir avaliações desfavoráveis a respeito do cônjuge. Estar casado não pressupõe ter liberdade para dizer tudo que se quer, nem como e quando quiser.