Por Redação Foz
Identificar-se com uma “tribo” para chamar de sua é um padrão de comportamento quase universal nos dias de hoje. Afinal, agir e pensar em conformidade com referências externas ou de acordo com expectativas alheias é mais cômodo do que ser autêntico de fato. Viver segundo seus próprios termos e valores, imune a julgamentos e opiniões de terceiros, exige autoconfiança elevada.
Ser autêntico não tem a ver com aparência
Bem diferente do que se imagina, autenticidade tem pouca relação com aparência. Usar roupas “descoladas” e adereços no nariz, vestir tendências ou pintar os cabelos de azul, por exemplo, não faz de ninguém autêntico. Pelo contrário. Nada é mais inautêntico do que replicar modismos. Pessoas autênticas vestem a roupa em vez de serem vestidas por ela — ou seja, criam seu próprio estilo.
Em outras palavras, ser autêntico tem a ver com quem se é de verdade; é pertencer, antes, a si mesmo. Logo, é alguém que não negocia seus valores em troca de aceitação ou validação social, e sabe dizer não. Na esfera profissional, a postura costuma ser bem-vista, pois pessoas autênticas são mais confiantes e seguras. Não é à toa que em geral prosperam quando decidem empreender.
Autenticidade não é meta
Viver a partir de quem se é — de dentro para fora — não deixa de ser um ato de coragem. Em meio a pressões ao redor e a influências sociais de todos os lados, seguir o coração é uma decisão difícil. Medo, insegurança e a necessidade infantil de aceitação são alguns impeditivos. O antídoto está em trilhar o caminho do autoconhecimento em busca da autoconfiança necessária para se libertar.
A autoaceitação é o primeiro passo em direção a uma vida autêntica. Esta, porém, não é uma meta a ser atingida. É um processo íntimo de autorresgate; de superar, sobretudo, a baixa autoestima, e trazer à tona o eu genuíno submerso em si mesmo. De forma metafórica, é como destampar uma caixa interior e libertar-se de ser quem não se é para viver de acordo com a essência de quem se é.
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Ser autêntico não é ser mais um na multidão
Críticas, quem se importa?
Por mais desafiador que pareça, a recompensa é gratificante. Na prática, significa trocar o desgaste emocional que fingir ser outra pessoa provoca pela sensação contínua de satisfação e realização que uma vida baseada em escolhas autênticas proporciona. Ao abraçar a autenticidade, abre-se ainda espaço para que a criatividade e a inovação — antes inibidas por receio de críticas — aflorem.
As críticas, claro, não vão desaparecer. Mas quem se importa? Quando a autoconfiança se instala — como decorrência da autenticidade —, fica-se imune a elas. Mas não é só: mais do que libertador, ser autêntico tem efeito multiplicador, pois costuma inspirar, pelo exemplo, outras pessoas a adotar a mesma conduta para si. Ganham as relações interpessoais, que passam a ser mais verdadeiras.
O que fazer para se autoconhecer?
Já se sabe que o autoconhecimento é a chave para a autenticidade. Mas, afinal, em que consiste se autoconhecer? Para o psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Jung, trata-se de um processo de transformação pessoal, que requer um grau elevado de autoconsciência e disposição para enfrentar e matar simbolicamente a persona — fachada social adotada pelas pessoas desde a juventude para se encaixar na sociedade.
Para começar, quais hábitos, escolhas e valores são apenas cômodos de se adotar, em vez de expressarem quem se é de verdade? Reservar alguns minutos por dia para ficar em silêncio e pensar ajuda a descobrir. Perguntas como “o que me faz feliz?”; “quais são meus pontos fortes?” e “o que eu realmente quero na vida?” costumam gerar bons insights e revelar aspectos de si mesmo até então desconhecidos.
A trilha de ser autêntico
O processo de viver uma vida autêntica, contudo, é contínuo. Exige ajustes ao longo do tempo até que a verdadeira identidade amadureça e assuma a condução das próprias escolhas e decisões. Porém, quanto mais cedo se iniciar, melhor. Enquanto não se tem clareza de quem realmente se é, vive-se à deriva, como massa de manobra de todo tipo. Abaixo, a trilha da autenticidade.
Quem sou eu? — Esta é a primeira pergunta a ser feita quando se busca autenticidade. É a porta de entrada do caminho que conduz à essência de cada um. E deve ser feita com frequência até que seja alcançada.
Aceitação — Aceitar-se completamente, com todas as imperfeições e peculiaridades, é parte fundamental do processo, pois elas são as autorreferências para o autoaperfeiçoamento e o autodesenvolvimento.
Valores — Autenticidade e relativismo moral são inconciliáveis. Ser único é diferente de ser mais um na multidão amoral guiada pelo cinismo das verdades convenientes. Ser autêntico implica resgatar o senso de moralidade perdido e ter a coragem de guiar-se única e exclusivamente por ele. Afinal, só há uma verdade válida.
Despedida — Ser autêntico envolve estar preparado para se despedir de muita gente; e não ter medo de enfrentar a estrada sozinho, se necessário.
Experiências novas — Experimentar atividades diferentes pode revelar novos aspectos de si mesmo.
Ajuda — Muitas vezes, o apoio de profissionais treinados, como terapeutas ou psicólogos, torna a jornada do autoconhecimento e da autenticidade mais confortável.
Autênticos não abrem mão da individualidade
Ser o mesmo por dentro e por fora é o ápice da autenticidade; a integração total de si mesmo. Quando ocorre, marca o surgimento de alguém de fato único como indivíduo. Mas ser autêntico nem sempre requer inciativa. Para muitos, é espontâneo, natural. Desde cedo, ainda na adolescência, já se mostram como são e seguem assim vida afora, desbravando seus próprios caminhos.
Não há exagero em dizer que a autenticidade move o mundo. Enquanto a maioria busca abrigo no coletivismo, anulando-se, os autênticos não abrem mão da sua individualidade para pertencer ou se submeter a grupos. Invulneráveis, não são apenas protagonistas de suas vidas, mas impactam a realidade de todos com criações e inovações próprias da natureza ousada que lhes é peculiar — para o bem ou para o mal.